17 de ago. de 2013

Qual o seu time?

Quando perguntam qual meu time, sou acometido por certo pânico ao pensar em responder. Por um segundo passa pela minha cabeça a discriminação, os olhares desconfiados ou de desprezo. Alguns tentam até entender sem entender, como se fosse eu um alienígena ou coisa pior. Mas imediatamente me recomponho lembrando as palavras de Nelson Rodriguez, que trazem certo conforto essa hora: “Toda unanimidade é burra”. Não que eu me sinta superior, mas carrego o fardo de querer ir além das aparências, das emoções fortes, da alegria vazia de um grito de gol que se perderá no tempo sem deixar nenhum legado útil para a humanidade. Então, forçando a naturalidade respondo: Eu não gosto de futebol. Após um silencio que parece uma eternidade, os olhares se desviam buscando na mente entender esse fenômeno raro. Alguns, num esforço de etiqueta, apenas balbuciam um ruído que, de pretensioso, simula uma aceitação, mas outros não se controlam e partem para os questionamentos. Assim resolvi perder o medo e juntar numa espécie de manifesto todas as razões pelas quais eu não gosto de futebol.

Fico estarrecido ao ver como o futebol é habilmente usado para promover a alienação das massas e seu afastamento das questões importantes. Hodiernamente existe uma tendência a mudança desse quadro, mas acompanhando a nossa história, vemos que o fervor de nosso povo para lutar por seus diretos e reivindicar o que é certo, foi paulatinamente trocado pelo fervor futebolístico onde os gritos de reivindicação das ruas foram substituídos pelos gritos de gol. Resumindo, nosso IDH é inversamente proporcional ao quantitativo acumulado de GOLs.

Estranhamente as copas em que a seleção brasileira foi campeã sempre estiveram próximas a momentos de crise. Em 1956 a revolta de Jacareacanga quando militares da aeronáutica insatisfeitos tentaram depor o presidente Juscelino Kubitschek e em 1958 a seleção brasileira ganhava sua primeira copa. 1960, a capital do Brasil é transferida do Rio de Janeiro para Brasília em meio a críticas sobre os gastos excessivos e o endividamento junto a credores internacionais e em 1962 a seleção brasileira se consagrava campeã de mais uma copa. No ano de 1970 era mais um campeonato enquanto vivia-se a sombra do AI5. Na década de 90 tivemos o impeachment do presidente Fernando Collor (1992), ocorre a conferência mundial para o meio ambiente (1992), plebiscito sobre o sistema de governo (1993) e a seleção brasileira conquista mais um título na copa do mundo de 1994.

Somos o país do futebol ou nos fizeram um país de futebol? Aos poucos já estávamos viciados em futebol e a nossa "domesticação" ou transformação de povo politizado e reivindicador para cordeiros mansos indo para matadouro (ou maracanã), já estava completa. Numa atualização da frase de Maquiavel quando ele diz que "O povo precisa de pão e circo", podemos dizer hoje: o povo é pobre, mas se alegra com um gol! Contraditoriamente, os jogadores de futebol mais idolatrados, em sua maioria, não vivem aqui. São estrangeiros que comercializam a alegria do povo pobre e miserável esbanjando um dinheiro que serviria para resolver muitos problemas sociais em muitos países.

Hoje, além da copa do mundo, são quase 100 campeonatos se considerarmos todas as divisões. Assim temos a Copa do Brasil (competição nacional); campeonatos regionais; campeonato brasileiro (acontece no segundo semestre); a libertadores da América (times da América do sul e do México) entre outras competições espalhadas pelo mundo. Tudo massivamente transmitido e massificado pela mídia dominante na mente das pessoas de forma impositiva.

O absurdo chega a tanto que frequentemente e não deforma isolada e esporádica, vemos episódios de violência, assassinatos, acidentes envolvendo as grandes multidões de torcedores. Mas tudo isso é pouco comparado com o volume de dinheiro movimentado em torno desse circo. Somente a Fifa, terá um lucro de mais de 10 bilhões com uma única copa. Se somarmos isso ao lucro dos patrocinadores, dos times, as transações milionárias envolvendo jogadores, concluímos que a soma é muito alta para se pensar em soberania nacional, em benefício para o povo e para a distribuição justa dessa renda que traria muitos benefícios reais.

Hoje em dia, quando uma criança nasce, a primeira preocupação do pai é se o seu filho seguirá sua preferência futebolística. É muito comum comprar a camisa do time antes de comprar o primeiro pacote de fraldas. Nesse contexto familiar, é sempre o time do pai que vai prevalecer em detrimento do time da mãe. Esta, quando não abre mão do seu time para torcer pelo mesmo time do marido, não arbitra sobre que time a criança deve ou não seguir e esta, quando já está em idade que pode utilizar o seu livre-arbítrio, já está tão condicionada ou com medo de contrariar o pai que dificilmente muda de time.

Assim, quando ele cresce, sonha em ser jogador de futebol. Sustentando esse sonho, só tira nota baixa na escola, pois seus ídolos e exemplos de vida não precisaram estudar tanto para ganharem milhões. O pai projeta seu sonho de infância no filho e gasta o que não pode para pagar uma escolhinha famosa de algum time. Segue assim até não ter mais idade de ser “descoberto” por algum olheiro. Frustrado e sem completar seus estudos, ainda tem a chance de fazer um curso supletivo, mas, como a maioria acha estudar é chato e dá muito trabalho, acaba num trabalho assalariado, sem garantias e com carga horária que não permite que ele volte a sonhar. Exagero? Talvez, mas acho que todo mundo já viu uma história dessas. 

16 de ago. de 2013

Recortes III

Antes a gente desconfiava, mas agora temos certeza de que esses caras (os políticos) nunca ligaram para a vontade popular. Alegam que a escolha dos membros da CPI dos ônibus foi legal mas esquecem de que também foi EXTREMAMENTE IMORAL. Nesse momento os sr vereadores defecaram no PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA e rasgaram a Constituição Federal para se limparem. E as excelentíssimas fezes são ofertadas a nós, os eleitores com todo cinismo de quem acredita que vai se reeleger.

12 de ago. de 2013

O gigante dormiu. De novo.

O gigante dormiu. De novo. Chamem Francisco, por Ricardo Noblat
Previdente, esse rapaz. Sabe onde pisa. Como relator do novo Regimento Interno do Senado, Edison Lobão Filho (PMDB-MA), no exercício do cargo que seu pai, ministro das Minas e Energia, deixou vago, decidiu sumir com a palavra ética.
Está no  Houaiss: "Ética é o conjunto de preceitos sobre o que é moralmente certo ou errado". Moral "é o conjunto de regras de condutas desejáveis num grupo social".
Há dentro do Regimento um código de ética. É sobre ele que juram os parlamentares na hora em que tomam posse dos seus cargos. Se depender de Lobão Filho, a palavra desaparecerá do código.
Afinal, o que é ética para você poderá não ser para ele, argumenta o senador. "A ética é uma coisa muito subjetiva, muito abstrata". Daí... Daí que Lobão está sendo apenas realista. E menos hipócrita do que seus colegas.
Fraudar notas fiscais para justificar gastos com verba de gabinete é faltar com a ética ou não?
E omitir da Justiça dinheiro recebido para pagar gastos de campanha?
E embolsar grana por fora para votar como manda quem pode?
E retardar a instalação de uma CPI à espera de que seus apoiadores desistam dela em troca de vantagens?
É espantosa a quantidade de políticos que procedem assim impunemente. Quase todos.
Tem uma CPI Mista prontinha no Senado destinada a se lambuzar com o mar de lama que escorre das obras da Copa do Mundo. Poderia estar funcionando. Mas Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, deu um tempo para que seus pares pensem melhor a respeito.
Um pensou e tirou a assinatura: Zezé Perrela (PDT-MG). Outro, João Alberto de Souza (PMDB-MA), topa tirar desde que empregue um dos seus filhos no governo.
Cadê o gigante? Ele não havia acordado?
Foi em junho último que manifestações diárias sacudiram o país. Num único dia, mais de três milhões de pessoas gritaram slogans, enfrentaram a polícia e algumas botaram para quebrar.
Nunca os políticos temeram tanto o povo. A presidente da República falou à Nação. O Congresso prometeu aprovar em regime de urgência um lote de benfeitorias sob o título de Agenda Positiva.
Para aumentar o sufoco dos alvos preferenciais do gigante, o Papa Francisco passou uma semana entre nós dando lições de humildade. E antes de ir embora, aconselhou os jovens a irem para as ruas.
O gigante ganhou na internet até a companhia de um canal exclusivo de televisão só para amplificar seus maus modos. No ar, a Rede Ninja!
Pois cansado - quem sabe? - resolveu dormir outra vez. Para quê? Quanta preguiça!
O que a presidente propôs para amansar o gigante fracassou - reforma política, constituinte exclusiva, plebiscito ou mesmo referendo, dois anos a serviço dos mais pobres para quem desejasse se graduar em medicina.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) qualificou de engodo o pacote de promessas do Congresso concebido sob medida para entorpecer o gigante.
Desde então ministros e políticos voaram nas asas da FAB e ofereceram caronas a amigos e parentes.
Amarildo desapareceu.
A cara de bom moço do PSDB foi seriamente desfigurada pelo escândalo das licitações de trens dirigidas.
O lobista do PMDB na Petrobrás chocou o distinto público com suas histórias medonhas. Uma delas sobre dinheiro para a campanha de Dilma. Outras, que aguardam publicação, sobre gente só um tico menos graúda do que Dilma.
Os Ninjas estão na berlinda de castigo tamanha é a série de depoimentos que abalou sua reputação.
Quanto ao gigante...
Nada mais esquisito.
Faz o maior auê, sai de cena de mãos vazias e se recolhe para pegar no sono.
Não, meu caro, não é hora de deitar em berço esplêndido.

Por Ricardo Noblat no blog http://oglobo.globo.com/pais/noblat/